Não Sou Um Emigrante, Sou Um Nómada

Foi o meu primeiro filho mas não o pari. Estive na sala de partos e ouvi o seu primeiro chorinho, vi-o primeiro e ficou meu para sempre.

Era tão feio que fiquei com vergonha até de chorar mas provocou em mim uma explosão que não senti com o nascimento do meu filho. Com ele foi logo ali.

Não era meu mas pertencia-me e eu estava decidida a fazer dele alguém na vida material e sentimental. Por ironia do destino ficámos sozinhos: eu, ele e a nossa mãe. Tudo como Deus quis.

Hoje olhando para trás arrependo-me de não ter feito muita coisa, de não ter estado mais presente principalmente desde que saí de casa mas mesmo da minha casa eu sabia de tudo. A verdade é que nunca abandonei o ninho.

... Ele vai...

Ele diz que não vai ser um emigrante mas um nómada. Resumiu-me, em breves segundos, os ciclos migratórios da humanidade desde a pré-história e os motivos das deslocações dos povos e fez as malas.

O "meu filho" vai partir e mesmo sabendo que não vai para longe não deixo de sentir uma ponta de tristeza e revolta. 

Tristeza porque é um bocadinho de nós que parte num avião e deixa de estar á distância de um beijo. Revolta porque nesta corrida global, Portugal não tem e nunca terá forma de valorizar os seus talentos, dando-os a outros país depois do investimento que fez na sua educação. 

As palavras de reconhecimento desta breve carreira (com 1 ano) e a valorização que estava a ser feita não acompanha o reconhecimento monetário e as condições de trabalho de excelência encontradas noutros país europeus. 

Esta é a verdade e a vergonha do nosso país que reclama para trazer para Portugal outros emigrantes e refugiados por falta de população mas depois etiqueta os seus numa mala de porão.

E nesta família já são dois porque a minha cunhada também com boas notas, um bom estágio e posteriormente um bom emprego, já lá está com condições inimagináveis em Portugal. Porque é que os outros países conseguem e nós não? 

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