Hotel Urgeiriça
Naquele fim de semana antes da Páscoa eu senti-me uma Rainha. Estive na Terra do Gelo mas não gelei e dormi num lugar encantador e cheio de história - o Hotel da Urgeiriça - de 4✩ mas onde tudo é de 5✩ desde a decoração, música âmbiente, limpeza, prestabilidade, simpatia, comida... enfim é tudo muito bom e deve ser especialmente divinal para uma escapadinha romântica. Está na minha lista lá voltar exactamente para isso ;).
Urgeiriça foi um dos grandes jazigos de urânio a nível europeu e foi concessionado e explorado
desde 1930 pelo súbdito inglês Charles Harbord. Essa concessão incluía uma residência (muito menor na altura) que serviria para proporcionar tratamento a uma sua tia, vítima de grave doença. O generoso gentleman, não olhou a despesas e mandou edificar uma enorme mansão. Cinco anos depois da dispendiosa instalação, a residência foi transformada numa
estância de repouso, sob a designação de English Hotel Urgeiriça. O inglês teve um papel misterioso no decurso da 2ª Guerra e parece ter sido uma figura importante da espionagem aliada e principal responsável
pelo alojamento e movimentação em terra portuguesa dos seus agentes secretos.
O mais notável entre os notáveis clientes do Hotel Urgeiriça foi, todos o dizem,
Sir Anthony Éden, primeiro ministro de Inglaterra, que ali passou, em Agosto de 1952,
a lua-de-mel com a segunda esposa, Clarisse Éden, sobrinha do então ultrafamoso
Winston Churchill, o vencedor da segunda Guerra Mundial.
Uma das estadas que ficou memorável, foi a da celebre
jornalista francesa, biógrafa de Salazar, Christine Garnier, que no quarto 120 redigiu grande parte do texto do livro sobre a vida e a obra do então presidente do
concelho. Instalada no Hotel Urgeiriça durante 16 dias a convite de Salazar, que pagou
do seu bolso todas as contas resultantes dessa estada, a jornalista passou os dias com o
presidente na sua casa do Vimeiro, ali bem perto, vindo ele próprio busca-la ao fim da
manha e voltando a acompanha-la ao hotel por volta das onze da noite.
Consta que Salazar manteve um escaldante romance com Christine, não levando
a bem a pesada conta resultante das longas conversas telefónicas que todas as noites
ligavam a jovem a um misterioso interlocutor parisiense.
Entre as pessoas importantes que deram a honra a Charles Harbord de preferir o
seu hotel contem-se o marechal Craveiro Lopes, o rei Humberto de Itália, o actor João
Villaret, António Ramalho Eanes e Francisco Sá Carneiro com a sua amada Sue eram visitas frequentes.
Mantendo-se fiel ao estilo inglês das origens, rodeado de belos jardins
verdejantes e bem tratados, o hotel tem agora 85 quartos, três suites e cinco vivendas, mantendo
o mobiliário diferenciado que lhe deu carisma, bem integrado com a maquinaria
indispensável à vida moderna e ao novo conceito de conforto hoteleiro.
Alguns espaços, caso do Restaurante Real, do bar e do Grande Hall de entrada,
mantêm-se fieis, se não às origens, pelo menos aos bons velhos tempos em que qualquer
estranho podia ser sempre um temível espião.
Todas as fotografias foram retiradas aleatoriamente da net |
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