É Demasiado

São 6h30m da manhã e estou sentada no trabalho a tomar o pequeno-almoço e a ler o jornal antes de o deixar na secretária do seu legítimo dono.

São 6h30m e já estou a chorar sem conseguir parar a tentar acalmar o estômago.

Lá longe, muito longe, tão longe que não se consegue ouvir o barulho das bombas, os gritos e o lamento, tão longe que não se sente o sangue, não se cheira a morte, tão longe... lá longe, numa cidade da Síria, nestes 3 últimos dias morreram, devido ao que a ONU considera o massacre do séc XXI, 53 crianças. 

Já nem consigo...

E não sou só eu. O Diogo não tem acesso a notícias, o Mundo dele é condicionado por mim mas ele não esquece o Dia do Pijama e questiona, questiona, questiona e sabe, vai sabendo e sofre. O Diogo chora muito e abraça-me. Quer ir buscar os meninos, falar com as pessoas para não fazerem mal ás crianças e aos papás, para deixarem as crianças brincarem. Ele diz que precisa explicar que o céu já não precisa de mais estrelas.

Eu sofro. Não sei o que hei-de fazer. Não posso mentir, vou tentando omitir mas ele é esperto, perspicaz e faz perguntas tão desconcertantes para a idade dele. 

E ele chora e abraça-me dizendo que não me quer perder, que não quer que eu morra, que eu sou o Amor da vida dele, que não sabia o que fazer sem mim.

É complicado gerir os meus sentimentos e gerir os dele. Eu sei que ele sabe que eu tenho medo, muito medo mas nunca lhe disse.