Mãe

A minha mãe faz hoje 60 anos.

Tem 13 anos está apaixonada e quase a casar. Eu estou quase a nascer, só faltam 5 meses.

Estou triste porque ela não tem nada para me contar sobre mim, não sabe, não se lembra, era muito nova e a vida dela sempre foi trabalhar. Nestes intervalos quem me criou foi a "tia Emília" ou Lagartixa.

Lembro-me de ser feliz com ela, do meu tio. A minha mãe diz que ela lhe salvou a vida quando era bebé porque a minha avó era desleixada e eu acredito nela. Tivd oportunidade de conhecer a minha avó materna e ela era mesmo desleixada. 

Até certa altura não me lembro de ser feliz com a minha mãe, sinto-me magoada. Eu sei que ela era boa, sempre me apoiou e sempre foi minha amiga mas memórias vincadas não tenho.

Não sei se ela não era carinhosa e afectuosa por desconhecimento de causa, por cansaço do trabalho ou por medo do meu pai que achava essas coisas uma mariquice mas não me lembro do colo, do beijo, do abraço, do afago carinhoso e protector.

Sempre fomos amigas e cúmplices, as minhas memórias dela sem apoio de fotografias ganham maior vida na pré-adolescência. 

Acho que isso ela sabia ser muito bem. Parou aí e aí ela começou a viver em mim mas eu era rebelde e deve ter sido muito difícil para ela. Tenho a certeza que foi. Tenho a certeza que houve dias em que ela teve medo por mim e nem as desculpas que ela arranjava que eu era assim porque tinha sido muito oprimida e mal tratada pelo meu pai, a deixavam dormir descansada. 

Ela tinha medo mas também esperança. Aquela coisa que sempre se agarrou a ela pior que lapa: vai correr tudo bem!!!

O meu irmão nasceu, fruto de outro relacionamento, já eu tinha 20 anos e vi a minha mãe ser a Mãe. Nunca tive inveja, ciúmes, nada (nunca pensei seriamente nisso até hoje), tive sempre orgulho e uma imensa alegria de ver que ela tinha mudado, tinha crescido. Era Mãe.

E ela separou-se e ficamos os 3. Eu já estava mais calma e ela continuava a crescer, crescer, crescer. Quis crescer e aprender. Aprendeu a ler jornais, livros, a ir a espectáculos e hoje ensina, dá-nos lições e informações. É interessada e quer saber, com a 4 classe ela sabe coisas que não se aprendem nas escolas.

Mas o que ela mais nos ensina é a saber Ser e a saber Viver. Ela tem uma energia que nunca se esgota, uma força de vontade intransigente, uma alegria, um poder resoluto em que Nada mas Absolutamente Nada está mal ou errado para estarmos tristes. Está tudo Bem, Sempre Bem porque somos saudáveis apartir daí, os outros, que se lixem nas suas vidas medíocres.

Não que ela não se importe com os outros, pelo contrário, ela importa-se muito com os outros e em ajudar mas ela não se importa Absolutamente Nada com o que os outros dizem, pensam e fazem porque vão ter de viver com o seu próprio mal e para isso, para eles, ela mostra total indiferença. 

Ela ignora o que lhe faz mal e foi essa uma das principais lições que ela nos transmitiu toda a vida. Com ela como pilar nós somos uma VERDADEIRA FAMÍLIA. 

Uma família interessada, preocupada, amada, confiante, segura, nada desconfiada ou minimamente mentirosa. Com ela como pilar nunca foi preciso mentir ou omitir, nunca houve medo ou insegurança para transmitir um pensamento (fosse qual fosse), uma ideia, um grito, um pedido. NADA.

Sinto muito mais que orgulho de ter tido a sorte de ter esta mulher como Mãe e tenho de agradecer a Deus e á Vida ter-me consentido a  Honra dela ser a Avó do meu filho e dele ter oportunidade de conviver diariamente com ela. 

Com ela como pilar o Meu Mundo nunca desabou.