Dia dos Pais Solteiros

Volta e meia lá causo polémica com alguma opinião que transmito publicamente mas opiniões são como são e cada uma tem as suas e esta é a minha.

O assunto é bastante controverso, é sobre comemorar ou não o Dia do Pai nas creches. Muitas mães argumentam que isso é muito triste para as crianças que não têm pai e aceito esse argumento mas depois existem as outras crianças que têm pai e que se veem privadas de um acontecimento público por causa das outras e isso também não é justo.

A bem da verdade nada é justo porque à partida não é justo, seja porque motivo for, uma criança não ter a presença do pai nas celebrações. A creche do Diogo este ano optou por fazer o tradicional trabalho e depois um pequeno lanche ou pequeno almoço, no refeitório, em privado, entre cada pai e cada filho à medida que iam chegando. As crianças que tinham pais ficaram contentes e as que não tinham mesmo sabendo do acontecimento estavam distraídas.

As crianças que não têm pai não ficam tristes só no Dia do Pai, elas falam muitas vezes disso e choram muitas vezes e não é este dia que as vai ferir mais na sua grande susceptibilidade. Eu cresci com um pai presente que mais falia não ter estado e participar nestas coisas não era com ele, nem dentro nem fora de casa - triste, o meu irmão cresceu sem pai por opção do pai e nunca lhe sentiu a falta ou se sentiu traumatizado, pontualmente até o enviávamos á psicóloga só para termos a certeza mas a única coisa que ouvíamos era que estava tudo melhor que bem. A mãe e eu não fomos pai e mãe mas soubemos preencher a lacuna de não ter pai e não ter uma figura masculina presente na vida dele. São casos, existem muitos de sucesso e outros não, mas infelizmente nada é perfeito.

Quem tem algo ou alguma coisa não se deve sentir constrangido por isso, seja adulto ou criança e não deve mudar por isso mas deve aprender a partilhar, encontrar o equilíbrio sendo feliz por ter, por ser e ajudando os outros a serem felizes apesar de não terem. Não podemos deixar de ter ou fazer só porque os outros não têm e ninguém tem o direito de nos fazer infelizes ou fazer sentir mal porque estamos "completos".

Quem tem, tem o dever (nem é a obrigação) enquanto pessoa consciente do outro e da tristeza do outro do que as suas acções podem causar, deve procurar soluções que se possam conjugar.

Imaginem vocês eu a proibir ou a manifestar-me publicamente contra o Dia do Pijama porque o meu filho desde aí que fala muito nisso, nesse dia andou tão triste que a educadora teve de lhe pegar ao colo para falar sobre esse dia, desde esse dia que ele se agarra a mim a chorar porque não quer perder a mãe e anda a fazer uma poupança para comprar brinquedos para as criança que não têm nem pai nem mãe. Aquilo entranhou-se nele e ele vive muito essa tristeza.

Deixar de festejar um dia só porque pode ferir susceptibilidades é bastante discutível, tanto quanto eu agora ter de ir ao Martin Moniz e ter de tapar o cabelo com um lenço.

O problema não são as crianças mas sim os adultos que envolvem as crianças nos seus traumas. Os adultos tratam as crianças como cristais que racham ao mínimo supro e elas são muito mais inteligentes e fortes que nós. Quantas de nós não temos amigas que vivem sozinhas com os filhos e eles fazem um bom entendimento deste dia? E quantas de nós não temos amigas que vivem sozinhas com os filhos que ficam super tristes? Já tentaram saber o discurso que é utilizado lá em casa tanto para este dia como em todos os outros, em que o pai deveria estar presente mas não está. A criança fica triste no Dia do Pai e em todos os outros dias mas a profundidade e a gravidade com que essa tristeza se entranha dentro dela depende do cuidador.

Temos a estúpida mania de proteger os nossos filhos de tudo e mais alguma coisa e não os ensinamos a viver com os sentimentos e é isso que deveríamos fazer. Deveríamos explicar a tristeza, a angústia, a frustração e direcciona-los. Essa é a nossa função como pai ou mãe e não omitir ou fazer de conta. O meu filho desde sempre teve conhecimento da morte, nunca foi conversa de tabu só que eu direccionei-o num sentido mais leve mas entendeu perfeitamente que nunca mais vê a pessoa que morre. Ele sabe tão bem que diz que não quer que eu morra porque vai ter muitas saudades minhas se não me vir. Fazer disso um drama cabe-me a mim. (e sinceramente é muito mais complicado para mim imaginar isso do que para ele).

Por este caminho a solução seria acabar com tudo porque de alguma forma, alguém, em alguma parte do planeta não está satisfeito com alguma coisa e o pior é que transmite essa insatisfação ás crianças, não as ensina a conviver com as coisas más e a viver as coisas boas, ensina as negativas. A cabeça do ser humano está direccionada no sentido contrário ao sentido da vida.

Conseguem imaginar não se celebrar o Dia do Trabalhar (eu consigo porque para mim é felizmente só mais um feriado)? Seguindo a ordem de raciocínio das pessoas que acham que não se deve celebrar o Dia do Pai nas creches para não deixar as crianças que não têm pai tristes deveríamos de deixar de celebrar o Dia do Trabalhador porque se as crianças ficam tristes por não terem pai, toda a gente sabe que um adulto fica deprimido e pode suicidar-se por não ter emprego e forma de cuidar dos seus. Sim, porque com esta idade já não conseguem acumular traumas psicológicos para o futuro e portanto é tudo ou nada.

Ah, bora lá acabar com os festejos de Natal nas escolas porque existem lá crianças doutras religiões, como muitas alegam que se devia fazer nas creches. Eu vivo num país maioritariamente católico e sou a favor da integração mas não posso aceitar de maneira nenhuma que isso aconteça. Tem de haver adaptação. Que se celebrem as datas das outras culturas/religiões e assim todos poderiam aprender as diferenças e igualdades no Mundo, talvez assim as crianças começassem a ser mais tolerantes que os pais. Isso seria educar. Lembram-se que essa foi uma das tarefas do Dia do Advento que o Diogo fez no Natal?

O Mundo está cada vez mais ridículo, estamos cada vez mais ridículos á procura da perfeição e sem saber conviver, aprender e ensinar as diferenças. Acredito profundamente na tristeza dessas crianças tal como acredito na estupidez de muitos pais que se revoltam ou indignam com este tipo de coisas mas acham normal deixar as crianças conviverem diariamente com um tablet como melhor companhia e uma tv com guerras, sexo e sangue. 

Hoje é Dia dos Pais Solteiros mas ninguém sabe, nem festeja porque o conceito não está enraizado e não sofre massivas campanhas de marketing a nível mundial. Hoje é dia dessas crianças e desses pais celebrarem a sua luta, o seu amor incondicional, a sua alegria de estarem vivos, puderem brincar  e desfrutar da companhia um do outro apesar de todas as adversidades. 

É dia de celebrar o amor a duplicar mas ninguém festeja porque no final é sempre mais fácil contar a história do coitadinho.




Comentários

  1. Concordo com tudo menos com o dia do pai solteiro. Pai é pai.Ponto final. Independentemente de ser ou não solteiro. :)

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